26 de jun. de 2011

Pessimismo

Aruna e Bline conversavam ao telefone...
 -- E o seu irmão, como vai? -- pergunta Aruna.
 -- Ah, ele se acidentou de carro e sofreu alguns arranhões -- responde Bline, despreocupada.
 -- Mesmo? E como é que ele está?
 -- Agora, com as duas pernas quebradas, graças ao acidente.
 -- Credo! Então ele tá mal! Não foram só "alguns arranhões" como você me disse...
 -- Não não. As pernas quebradas foram para caber no caixão. É que ele era grande demais. Foi enterrado anteontem.

12 de jun. de 2011

das Minhas Relações Sociais

Ontem o coral jovem da igreja da qual participo foi cantar na "matriz" (adoro essa palavra: ela dá a impressão de que essa sistematização da igreja é algo mais sério do que realmente é) de Porto Alegre, num culto mais voltado à integração da matriz com outros "distritos" (outra palavra fruto dessa sistematização exacerbada proveniente da minha denominação).

Fomos com um ônibus "fretado", no qual, na volta, conversei um pouco com uma amiga minha (com quem pouco converso, apesar de considerar que de certa forma me identifico significativamente com alguns de seus pensamentos) sobre o modo como eu acho que funcionam as relações sociais no meu "mundo". De minha parte, achei estranho que ela tenha achado engraçado o meu modo de ver as coisas. Mesmo assim, como já vinha me propondo desde julho do ano passado (logo depois do FISL) a falar disso, resolvi que a hora é chegada de brincar um pouco sobre o assunto.

Antes de qualquer coisa, se o leitor não tiver notado, o título da postagem é uma referência ao Machado de Assis e ao modo como ele nomeava os títulos de alguns dos capítulos de seu Dom Casmurro. Machado de Assis, na construção da sistematização que proporei a seguir, teve uma enorme contribuição, já que freqüentemente "defendia" que tudo o que as pessoas fazem na vida é sempre movido ou por desejo ou por interesse (ao menos foi assim que eu aprendi nos livros do cursinho, aos quais eu não tenho mais acesso, já que emprestei pra alguém e não me lembro mais quem foi D=). Aliás... procurando por algum lugar onde se dissesse isso na internet (demorei pra achar qualquer coisa que servisse), encontrei essa aula, que achei até que bem boa:



Cheguemos, então, aonde eu quero chegar: quero falar sobre as minhas relações sociais.

O "desenvolvimento" do meu pensamento começou, acho, quando eu comecei a conviver com alguém que realmente tinha "problemas" e era o que chamarei de "doente". Apesar de "doente", essa pessoa é tão capaz de crescer pessoal e profissionalmente quanto eu (acho

Para começar, preciso comentar algumas coisas. Preciso dizer, em primeiro lugar, que ter tido um terceiro ano do ensino médio ruim (em termos sociais - eu não conversava com ninguém) me levou a entender que, quando ninguém se conhece, todo mundo é "acessível", o que não é tão verdade ainda quando as pessoas já se conhecem e já formaram grupos "fechados" entre si (esse novo entendimento me levou a uma socialização de sucesso quando eu fui pra FURG, em Rio Grande).

Tendo dito isso, quero começar falando da primeira (de um grupo de duas) conclusão a que cheguei: pessoas bonitas sempre levam vantagem nas relações sociais. Não é verdade? Se tu é bonito, as outras pessoas tendem a te aceitar muitíssimo mais facilmente do que em outros casos. Pessoas bonitas tendem a conseguir se fazer ouvir mais facilmente, inclusive. É a sensação que eu tenho, ao menos... u.u. Com essa primeira conclusão (e crendo que ao menos pra feio eu não sirva), passei a supor que as pessoas com quem eu tentar socializar provavelmente não vão querer me afastar; pelo contrário, inicialmente, vão provavelmente justamente entender que eu sou alguém que elas não conhecem tentando socializar. Na pior das hipóteses ([nerd] se eu tirar 1 no D6 T_T [/nerd]) elas não vão achar os meus assuntos legais e vão me considerar alguém chato. Num segundo caso, se as pessoas já me conhecem, elas provavelmente serão educadas: ouvirão o que eu tiver a dizer e logo "educadamente" encontrarão uma forma de fugir de mim, avisando que vão pegar uma água "ali" ou que vão falar com outro alguém "lá" (nada que eu também não vá fazer uma vez ou outra).

Uma segunda conclusão: em geral as pessoas se aproximam umas das outras somente pela utilidade que uma pode trazer à outra. Essa utilidade pode ser uma coisa bem sutil: ambas não conhecem ninguém num lugar e passam a se conversar porque percebem que são as únicas sem grupo; ou então ambas precisam de dupla pra um trabalho; ou ainda ambas são das únicas que gostam de falar sobre um certo assunto. O leitor poderia chamar de "amizade". Ok... chame do jeito que quiser.

O leitor vai dizer: essas duas conclusões são justamente as que eu disse que o Machado de Assis defendia. Pois são mesmo; mas eu tive de concluí-las eu mesmo antes de perceber que o Machado de Assis já tinha dito isso. E é no segundo ponto que os meus pensamentos mais se desenvolveram. Nessa segunda conclusão que mora praticamente o motivo dessa postagem. Comecei o todo querendo chegar a um ponto: quando alguém começa a me tratar como "doente".

(Serei um pouco redundante aqui, mas, enfim...) Andei percebendo (e foi bem sobre isso que eu conversei com a minha amiga) que, em geral, as pessoas são "acessíveis". Não importa quem tu seja, elas são acessíveis. Educadas, elas conversam contigo, não importante o quão divertido elas achem teus assuntos. Mesmo assim, pra que elas realmente se esforcem e queiram que tu faça parte de seus grupos sociais (ou seja, pra que ELAS queiram vir conversar contigo), é necessário que tu tenha algo útil ou interessante a elas. Beleza é algo válido, mas nem sempre é suficiente. Tu pode ser bonito, mas, se ao mesmo tempo tu é de alguma forma esquisito, tu não vai ser bom o suficiente pra os seus grupos. O resultado é que as pessoas agirão de uma das duas seguintes formas: (1) vão te tratar como doente; (2) vão te ignorar. (na real, eu prefiro pensar que talvez haja uma certa graduação entre os dois pontos, mas ignoremos que ela existe por agora)

Em lugares onde o ser ignorado não faz parte dos atos socialmente aceitáveis (como na igreja, por exemplo), o ser tratado como doente é escolhido predominantemente. Alias... o que é ser tratado como doente? É justamente ser respondido, mas não procurado; ser por um lado aceito como alguém participante da "sociedade", mas não participante do "grupinho". Como exercício, sugiro ao leitor que justamente pense (pra mim é claro, mas creio que pra o leitor pode não ser tão fácil assim) em como trataria alguém que tem, por exemplo, alguma dificuldade de comunicação (na minha idealização, essa pessoa seria alguém a quem a gente periodicamente se daria ao trabalho de tentar dar alguma atenção; também seria alguém a quem a gente daria atenção imediata no momento em que se manifestasse; por outro lado, seria alguém a quem evitaríamos no caso de querermos um momento agradável com nossos "amigos").

(Grande mundo da comunicação, aí estamos mais uma vez mergulhando em ti:) A comunicação, aliás, é, eu diria, o maior motivo pelo qual alguém poderia ser tratado assim. Pessoas com dificuldade de comunicação, na minha visão de mundo, tendem a ser de alguma forma menosprezadas. Acho que posso dizer que me sinto assim de vez em quando: como é difícil pra mim às vezes explicar algumas coisas, as pessoas tendem a se cansar antes que eu consiga chegar ao ponto onde quero chegar. Nesses casos, tendem a de alguma forma fugir, dando atenção a algum outro assunto que descobrem no momento poder receber mais atenção do que eu.






Tire um tempinho para ler essa tirinha maravilhosa do Ryotiras antes de continuar. Esse monte de coisas que estou dizendo talvez vá blow your mind se você for muito rápido...

AAA... outra coisa interessante: o andar com alguém que é tratado como doente te torna doente pra aqueles que o tratam como doente também. O conversar predominantemente com o doente faz com que aquele grupo te julgue como tal, sem saber o teu "potencial". Aliás... essa é outra palavra interessante, que pretendo explorar agora (foi a que eu usei quando conversando com a minha amiga).

Na faculdade, eu poderia dizer que não me sinto tratado como doente por grande parte das pessoas. Acho que, talvez, no máximo, excêntrico (no mínimo estranho tenho certeza de que alguns dos meus colegas poderiam me considerar). Mesmo assim, quem não é estranho no meu curso? (Creio eu) Boa parte daquela gente justamente releva as estranhezas de outrem por já estar acostumado às suas. Por outro lado, uma pessoa em especial é "tratada como doente": um colega, talvez um pouco mais estranho que os outros ([direitista] "todos os animais são iguais; alguns porém são mais iguais que os outros" [/direitista]). As pessoas não o desprezam quando ele entra nos seus grupos, mas não o convidam para participar também; ao mesmo tempo, ele passou no vestibular (no primeiro semestre!) e em várias cadeiras (inclusive em cálculo =D) e, assim, eu poderia dizer que tem tanto potencial de se formar quanto qualquer um naquele curso (talvez, sinceramente, inclusive, mais potencial do que alguns u.u).

Ainda sobre potencial, eu acho até mesmo engraçado quando, dentro da igreja da qual faço parte, me vejo "tratado como doente" por algumas pessoas. Às vezes, gente que me conhece há tempos, inclusive. Tipo... WTF? A minha primeira conclusão é de que definitivamente o meu "lack" de comunicação seja o causador do problema. A minha segunda conclusão é relativa ao tal do "potencial": às vezes falo algumas coisas tão tão específicas (comento sobre o livro que estou lendo, ou sobre o jogo que andei jogando, ou mesmo sobre alguma coisa que achei interessante que tem no Linux e não tem no Windows, ou ainda alguma observação que me veio na hora na mente sobre alguma palavra do português que tem uma tradução interessante no inglês ou no alemão) que os meus interlocutores ou não se interessam (porque não é algo de que gostem) ou simplesmente não são capazes de entender (sim... é verdade... eu tenho dificuldades de perceber... às vezes... que o que eu estou falando não é algo simples e que o interlocutor definitivamente NÃO VAI entender D=).

Percebo, enfim, que eu não sou doente, quando encontro pessoas que falam comigo e entendem o que eu digo (ou se esforçam para isso). Os regentes dos corais dos quais participo, em especial, são pessoas que inclusive me convidam pra participar das coisas quando percebem que a minha presença seria interessante; o meu professor de música (que hoje em dia não é mais meu professor, mas, enfim, que foi quem me ensinou os "primeiros passos" da música) é outro que me convidou várias vezes a participar das coisas que ele inventava (relativas à música também); também os meus professores de LIBRAS (e o pessoal da LIBRAS em geral) discutem de vez em quando comigo sobre aqueles assuntos polêmicos relativos aos estudos surdos que aparecem aqui ou ali em alguma aula (no caso, eu discuto em momento apropriado, fora das aulas u.u); por fim, os meus colegas da faculdade reclamam da minha ausência aos "encontros" que eles organizam quase que semanalmente em algum cinema ou na casa de alguém (creio que, se eu fosse tratado como doente por eles, eles não me convidariam u.u).

É isso...

É difícil sistematizar tão bem essas coisas quanto elas estão bem sistematizadas na minha cabeça, mas eu acho que expliquei bem até o modo como eu vejo as coisas.

R$

10 de jun. de 2011

Sobre a disciplina de Engenharia de SW

Estou fazendo 5 cadeiras esse semestre (em ordem do horários na semana): Otimização Combinatória, Fundamentos de Tolerância a Falhas, Computação Gráfica, Modelos de Linguagens de Programação e Engenharia de Software.

Todas as cadeiras, sem exceção, são, de alguma forma, sobre assuntos interessantes. Otimização Combinatória (OC), por exemplo, é legal porque o professor que ministra a disciplina é muito bom, como também é o caso de Fundamentos de Tolerância a Falhas (FTF) (essa última poderia ser EXTREMAMENTE ruim - já que é tri envolvidona com essas coisas de engenheiro de que eu realmente não gosto -, não fosse a professora ser uma das melhores professoras do instituto). Computação Gráfica (CG) é disparada a melhor: o professor é sem dúvida o melhor professor com quem estou tendo aula e o mesmo posso dizer da matéria da disciplina. Modelos de Linguagem de Programação (MLP) é uma disciplina legal, com um professor extremamente dedicado, apesar de não ser o mais eloquente em sala de aula. Ele tenta, mas, apesar de o todo ser bem legal, a sua aula não é das melhores.

As cadeiras descritas no parágrafo anterior eu posso dizer que são bem cansativinhas, no fim das contas: FTF tem questionário pra fazer (tu demora entre 1h e 2h pra terminar cada questionário), MLP tem tema em quase todas as aulas (alguns são ENORMES; outros são questão de 15min pra terminar), CG tem trabalhos bem bem bem grandes pra entregar a cada duas semanas, e OC, apesar de não ter trabalhos, é bem complicadona (o professor é fodão mas as provas são bem cobradas e o assunto da cadeira é tenso). Mesmo assim, não são ruins: como eu disse, de alguma forma eu me interesso ou pelo assunto, ou pela aula, etc.

Uma cadeira, em compensação, consegue estar sendo disparada a pior cadeira que estou fazendo desde que entrei na computação: Engenharia de Software.

Quando comecei a cadeira, esperava uma coisa: aprenderemos sobre como são os "processos de desenvolvimento de software", dando uma passada sobre cada um, entendendo as filosofias relacionadas a eles e os motivos que levaram à sua criação. Imaginava que veríamos também algumas boas práticas que fossem independentes dos processos.

O Diagrama de Casos de Uso é extremamente amigável. O cliente, ao ver um desses diagramas, não fica com dúvida alguma sobre o que o usuário é capaz de fazer, certo?
Como começamos a cadeira sem falar muito em UML e RUP (ou o tal do "Processo Unificado), achei que a coisa ficaria assim, sem foco na tal bendita UML. Pensei que no máximo aprenderíamos que existem "esse esse e esse" diagrama e que logo passaríamos adiante, continuando com as filosofias. Passado algum tempo, porém, estagnamos num tal de Diagrama de Casos de Uso (que não foi embora até agora T_T) e, a cada aula, tudo o que vemos são mais e mais diagramas e diagramas (e como esses diagramas da UML se relacionam com o único processo de desenvolvimento de software que importa: o Processo Unificado), motivo pelo qual tenho faltado frequentemente às aulas .

Novamente, cri: "aaa... o motivo de as aulas estarem ruins é relativo ao foco que a gente tá dando em coisas desnecessárias, e não tem nenhuma relação com a professora". Nos últimos tempos, porém, tenho é me incomodado justamente com ela.

Que as suas aulas são monótonas todos já sabem, e isso não é um problema "at all" (exemplifico com o professor de MLP, que tem aulas monótonas mas que ensina a matéria muitíssimo bem). Que ela se incomoda com a conversalhada constante da turma também todo mundo já sabe (aliás... a conversalhada é fruto das aulas monótonas, diga-se de passagem), e é por isso que ultimamente tem feito a chamada no início das aulas, liberando aqueles que aparecem só para ganhar presença (ao menos é o que parece).

Seu trabalho final, porém, é a maior de suas loucuras: estamos usando o Processo Unificado (ou seja, gerando infinitos diagramas e "documentos" - não sei se esses documentos são parte do RUP, mas acho que ao menos ela quer que creiamos que sim - escritos com páginas e páginas que eu duvido que ela vá ler) pra, em 5 etapas, desenvolver uma loja virtual fail fake, de acordo com a especificação feita por outro grupo (sim... ee... no caso... um outro grupo está desenvolvendo a loja de acordo com a especificação do meu grupo). A cada etapa, além de enviarmos via moodle o "documento" com todos os diagramas e bobagens mais gerados, ela ainda EXIGE QUE LEVEMOS UMA CÓPIA IMPRESSA. E, pior do que isso, ela é inconsistente em suas especificações: na etapa 2, não pediu que levássemos uma cópia impressa do relatório individual (esse relatório era pra falarmos sobre as dificuldades que tivemos e coisas mais) gerado por cada aluno, mas somente do "documento" gerado pelo grupo inteiro. Na etapa 3, pediu que levássemos TAMBÉM o relatório individual.
Aqui vai outro adorável diagraminha da UML. Só pra dizer que eu pus outra imagem no blog u.u
Pobres das nossas árvores. Como disse um colega, 90% da mata atlântica deve ter sido desmatada por causa dos caras da Engenharia de Software.

Enfim enfim... essa postagem é só uma reclamação da cadeira de Engenharia de Software. Não aguento mais. Tomara que acabe duma vez... e certamente não farei mais cadeira alguma com essa querida professora - a qual não nominei aqui, apesar de obviamente grande parte dos meus leitores a conhecer.

Não precisava ter lido se não quisesse u.u

R$

3 de jun. de 2011

Uma reflexão sobre a cultura surda

Li nos últimos dias o capítulo 4 do livro "As imagens do outro sobre a cultura surda", de uma surda chamada Karin Strobel, que falava (o capítulo) sobre os 8 artefatos culturais do povo surda. Li porque, como acho que os leitores devem saber, tenho feito um curso de LIBRAS na igreja da qual participo.

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Como eu acho que muita gente vai sair dizendo que eu vou para o inferno depois de ler o meu texto, acho melhor afirmar o seguinte antes de continuar:

A palavra "deficiente" aqui não tem o objetivo de soar pejorativa. "Deficiente" é "aquele que tem alguma deficiência", e que isso fique bem claro.
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Como ía dizendo, li o livro porque o livro é usado como parte da matéria sobre cultura surda do curso de LIBRAS que faço (especialmente os capítulos 4 e 5). Já que o texto é escrito por uma surda, é natural que contenha alguns pequenos erros ou "delitos" aceitáveis, que não atrapalharam a leitura como um todo (já que, convenhamos, escrever textos em uma língua que não é a nossa "nativa" é sempre bem mais complicado). Por exemplo, achei bastante esquisito quando, em vez de usar o verbo "haver", muito mais frequente em textos "sérios", encontrava o verbo "ter", como em:

"Tem muitos pesquisadores da história cultural de surdos. Entre eles estão o Antônio Campos de Abreu, formado em História, o Otaviano de Menezes Bastos, o Dioniso Schmitt e a Gisele Rangel. Todos eles possuem um imenso acervo histórico cultural sobre o povo surdo."

Também nesse parágrafo, mas não só nesse parágrafo, achei estranho a autora usar artigo dos nomes das pessoas. Parece que ela os trata como se fosse conhecido de todos os leitores (alguém de quem a gente poderia fazer fofoca, por exemplo u.u).

Mesmo assim, aceitando o seu modo peculiar de escrever, que não é problemático mas simplesmente característico, não posso deixar de expressar a minha tremenda insatisfação e até mesmo uma certa indignação ou revolta com o modo como o texto trata as pessoas (ou sujeitos) surdas e as pessoas ouvintes. Um exemplo: a expressão "repressão ouvintista" é repetida frequentemente, quase como que incutindo a imagem de vilão aos leitores ouvintes (eu) que se acheguem ao texto.

Eu até concordo e aceito que, por ignorância, muitos ouvintes não consigam conversar com os surdos, e inclusive aceito que muitas famílias de ouvintes, ao ter um filho surdo, orientadas por médicos ou não, fazem de tudo para tentar fazer a criança ouvir, tentando tratamentos ou fazendo-os pôr aparelhos auditivos, mas não concordo que isso possa ser considerado "repressão ouvintista". Afinal, não é tão simples, de repente, dizer "aa... ok... ele é surdo... sem problemas...", e aceitar que não haja um jeito de reverter o quadro ou simplesmente não querer fazê-lo. Não é algo que entra facilmente na nossa "cultura". Mas aceitado (eu ía escrever "aceito", mas achei que ficou parecendo que o verbo estava na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo) o surdo, é necessário que se deixe algo perfeitamente explícito: o surdo é deficiente SIM!

Achei o máximo os textos que vi em sala de aula dizendo que o surdo não é deficiente, mas que é a sociedade ouvintista que os torna deficiente, e coisas do tipo. Procurei no meio dos slides das aulas uma citação de uma mulher que dizia justamente isso, mas não consegui achar. Vamos e viemos: o surdo é deficiente SIM! Se não é deficiente, então por que é que não paga a passagem dos ônibus? Se não é deficiente, então por que é que pode levar acompanhante nos ônibus pra onde quiser? Se não é deficiente, então por que é que fica exigindo legenda nos filmes? Lamento surdo que não se considera deficiente, mas nem tudo é como a gente pensa.

Novamente, meu objetivo não é oprimir ou humilhar, mas esclarecer a minha opinião. Os surdos precisam, afinal, de uma série de "adaptações" para viver, bem como qualquer deficiente. Aliás... eu também sou deficiente: sou canhoto. Vivo numa sociedade em que a opressão destrista me sufoca, e eu sou necessitado de uma série de adaptações para sobreviver.

Outro caso que me leva a protestar é o seguinte: o livro dá a entender que os surdos são "xenofóbicos" (ou racistas dependendo da interpretação n_n). No texto seguinte, estou certo de que, se as expressões referentes aos "Surdos" ali fossem substituídas por expressões referentes aos "Negros", a autora do livro já estaria atrás das grades há séculos, sem possibilidade de pagamento de fiança:

"Portanto, ser filho de pais surdos é extremamente respeitável no círculo deles, como cita Wrigley (1996, p. 15):

A partir de uma visão dos Surdos, o ato politizado de alegar uma surdez "nativa" - ou seja, uma surdez de nascença - está ligado à identidade positiva de não estar "contaminado" pelo mundo dos que ouvem e suas limitações epistemológicas do som sequencial. A "pureza" do conhecimento dos Surdos, a verdadeira Surdez, que vem da expulsão desta distração é na cultura dos Surdos uma marca de distinção. Seria melhor ainda se os familiares e até mesmo seus pais fossem também Surdos."


Aliás... que limitações mesmo? Lamento senhorita Strobel ou senhor(a) Wrigley, mas na minha visão essas limitações são as mesmas que levaram a raposa a não alcançar as uvas.

Concluindo, é verdade que o povo surdo é uma minoria na nossa sociedade e que, como minoria, não recebe o respeito que deveria receber, sendo esquecida ou ignorada. É verdade também que é interessante que eles lutem por direitos que os ajudem a ter uma maior qualidade de vida. É um absurdo, porém, na minha opinião, dizer que a "sociedade ouvintista" é "opressora" e que ser surdo é algo perfeitamente normal. NÃO É! (Aliás... achei um absurdo descobrir que tem pais surdos que gostariam de ter filhos surdos. O argumento seria de que "ser surdo" seria só uma identidade cultural, e não uma deficiência)

Desculpem-me aqueles que acham que eu vou para o inferno depois de dizer o que eu penso, mas, francamente, o livro praticamente rotula os ouvintes como se fossem vilões O.o ¬¬

Enfim...

R$